Das ausências, a de Deus.
02:35:00
Das vezes que acordei de pesadelos, uma em especial eu nunca vou me esquecer mas pra isso devo contar meu sonho:
Deus tinha me abandonado.
Sim, Deus tinha me abandonado. Deus em meu sonho era representado por um senhor de sorriso no rosto, rosto familiar e estranho ao mesmo tempo e eu tinha a certeza de sua identidade quando uma paz tocável invadiu meu coração. Uma paz que creio que até meu corpo físico foi capaz de sentir. No sonho caminhávamos por campos verdes e eu tinha uma visão ampla de tudo, lembro-me dessas paisagens das inúmeras viagens que fiz com meu pai pelo interior. De repente sentamos e num salto ele se levantou e foi embora, quando foi embora toda a linda paisagem se transformou em um cenário horrível, um cenário de morte e a paz que reinava em meu coração foi transformada numa dor incomensurável, uma dor que eu não desejo nem ao pior dos homens. Acordei num salto e num desespero enorme.
Depois de calma e recomposta me coloquei novamente em minha cama e revi o sonho em minha memória, as sensações se tornaram pior e a sensação de abandono alastrou meu peito e me fez gemer de dor. Era uma dor tão profunda dentro do meu peito que chegou a ser física. Me coloquei de joelhos e consegui orar apesar da falta de ar que a dor me causava.
Quando o dia amanheceu, um vazio imenso me alastrava e eu não consegui ao menos tomar café da manhã, toda vez que minha fala era necessária eu balbuciava alguns sonos inaudíveis e incompreensíveis. Ao chegar em minha casa, mal falei com minha família e me recolhi ao meu quarto, nem sequer esperei para deitar-me na cama, o tapete foi meu colchão daquela noite... Era uma noite de tempestade e eu dormi mal, acordei pela madrugada e perambulei pelo meu quarto até encontrar minha Bíblia, em cima de uma Bíblia um bilhete feio por mim em algum momento de rebeldia: "Nunca se esqueça que isso te machuca" e sem que eu pudesse raciocinar rápido o suficiente, pronunciei: "Mas é a única coisa que pode te curar."
Deus, por mais que eu não sentisse a tua presença naqueles dias, sei que estava me sondando como um bom pai... Como me acompanha enquanto escrevo isso e quando isso for lido por alguém.
Deus nunca me abandonou.
Ai de mim se abandonasse.
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