A dramatização do coquetel anti-hiv

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Relato sobre a dramatização desnecessária feita por alguns profissionais da área da saúde. Muito do que é dito pra vítima naquele momento é peça fundamental para sua recuperação ou não e dramatizar o coquetel é, antes de tudo, cruel. 

  " Quando eu estava no hospital eu tive que tomar uma série de injeções e três comprimidos, a médica que me atendeu chamou-os de coquetel anti-hiv e me disse para tomar durante 29 dias. Até aí tudo bem, eu não ligaria para ter que tomar três comprimidos ao acordar. Contudo, o pior ainda estava por vir: 


“Veja, você vai ficar amarela. Seus olhos vão ficar amarelos. Você vai ter muita dor de estômago mas não vomite. Os remédios tem também um efeito psicológico então você pode ficar mais triste mas se lembre que é apenas os medicamentos. “ 


Durante 29 dias eu iria me tornar outra pessoa. As pessoas que não sabem o que aconteceu comigo, agora saberiam, qualquer um que olhasse para meus olhos saberia o que aconteceu comigo. Durante 29 eu iria me lembrar do que aconteceu comigo só de olhar para o espelho. 


Mas isso não aconteceu, não fiquei pálida, não fiquei com os olhos amarelados, não fiquei mais triste do que ficaria dado o fato que aconteceu aquilo comigo. 29 dias depois eu estava bem. Tinha dores de estômago sim, mas nada extraordinário e diferente que uma pessoa que exagera na dose de antibióticos tem. 

Pesquisando sobre os medicamentos vi que são pouquíssimos casos em que as pessoas apresentam os sinais que aquela médica falou que eu iria apresentar, que os efeitos colaterais aparecem na minoria dos casos. 


Mas foram 29 dias. 


29 dias que eu não deixava ninguém além de minha mãe entrar no meu quarto, 29 dias que eu esperava todos saírem de casa e irem dormir para eu finalmente ir me alimentar ou ao banheiro. Foram 29 dias me escondendo das pessoas, foram 29 dias de dor. 


29 dias de solidão. 


Tudo isso causado irresponsavelmente por uma profissional mal preparada e que não soube me falar sobre casos que eu poderia apresentar. Devo muito das minhas dores e do meu sentimento de solidão a aquela profissional... “profissional” 


E pra você que está passando por isso agora, eu sei da sua dor de estômago. Tome chá de camomila ou erva doce. Eu sei que a hora mais difícil do dia é quando você tem que abrir aquelas caixas e tomar aqueles 3 comprimidos, que é nessa hora que você lembra de tudo o que aconteceu, que você lembra dele e em alguns dias pode até senti-lo aí contigo, em cima de você. Mas vai passar... Eu prometo, vai acabar. Esses remédios vão passar, os exames vão chegar e também vão passar e daqui uns dias você não irá mais ter que cumprir esse protocolo tão cruel. 


Não quero que esse texto desencoraje você a falar sobre o que aconteceu contigo. Os medicamentos são importantes sim e a denúncia mais ainda, porém, temos muitos profissionais mal qualificados e sem nenhum senso de humanidade, que não tem noção nenhuma do que falam e pra quem falam. 


Tomem os remédios e se precisarem, eu estarei aqui. Tenho uma receita de bolo ótima que vai muito bem com chá de camomila! "

Tomar o coquetel é de máxima importância para as vítimas de abuso sexual. Muito dos estupradores são 'carimbadores", pessoas que transmitem o vírus HIV de propósito e estupram apenas com essa finalidade e o coquetel reduz simbolicamente as chances da vítima contrair o vírus.

Você que foi vítima, não deixe de tomar. Os efeitos colaterais existem mas quase não se manifestam se você manter-se sempre hidratado, bem alimentado e praticar ao menos  um esporte físico. Comer besteiras ajuda muito a diminuir aquela dor de estomago, então é uma bela hora de pedir pros seus pais ou pros seus amigos confiáveis AQUELA coxinha de frango com catupiri, ou AQUELE pastel de feira, rs. 

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